Sistemas Agroflorestais: conheça o projeto sustentável de vida

25 de fevereiro de 2023 8 minutos de leitura
Sistemas Agrofloretais

Antes de mais nada, os sistemas agroflorestais são basicamente uma combinação de atividades florestais com agricultura por meio de cultivo ou pastagem na mesma terra. Sendo assim, esses sistemas tem como objetivo imitar ecossistemas naturais, promovendo a diversidade de espécies vegetais e animais, melhorando a produtividade e a resistência do sistema agrícola. 

Têm como objetivo principal promover a sustentabilidade ecológica, econômica e social da agricultura, combinando a produção de alimentos e produtos florestais com a conservação dos recursos naturais e a melhoria das condições de vida dos produtores rurais, em especial os autônomos. 

Saiba mais sobre o sistema agroflorestais

Em um sistema agroflorestal, as plantas e árvores são cultivadas em arranjos estratégicos para maximizar a utilização do espaço e dos recursos disponíveis.

Os SAFs têm sido utilizados em todo o mundo como uma alternativa mais sustentável e resiliente à agricultura convencional, que muitas vezes é baseada em monoculturas, que usam agrotóxicos e dependem de insumos externos, que prejudicam o meio ambiente e coloca em risco os agricultores a crises econômicas e ambientais.

Destacando que, os sistemas agroflorestais podem contribuir para a redução da pobreza rural por meio do aumento da produção agrícola e da renda familiar e, ao mesmo tempo, o aumento da produtividade e da diversidade de produtos por meio da agrofloresta contribui para melhorar a saúde e a nutrição da população rural.

Além disso, os sistemas agroflorestais podem melhorar a fertilidade do solo, proteger as culturas e o gado, restaurar terras degradadas, melhorar a conservação da água, limitar o desenvolvimento de pragas e evitar a erosão do solo.

Como posso ter uma agrofloresta?

Primeiramente, iniciar uma agrofloresta pode parecer difícil, mas é um processo gratificante e relativamente simples, se você seguir algumas etapas importantes. Portanto, aqui estão algumas dicas para iniciar uma agrofloresta:

Faça um planejamento

Antes de iniciar o plantio, é importante fazer um planejamento detalhado do seu projeto. Considere fatores como o clima, o tipo de solo, as condições locais de luz e umidade, e as espécies vegetais e animais que deseja cultivar e criar. Isso vai ajudá-lo a escolher as plantas e árvores certas para o seu espaço, criando uma agrofloresta coerente ideal.

Prepare o solo

Agora que você idealizou com um planejamento detalhado, prepare o solo para o plantio, eliminando quaisquer ervas daninhas e outras plantas invasoras. Adicione matéria orgânica, como esterco e composto, para melhorar a qualidade do solo e aumentar a fertilidade.

Escolha as plantas certas

Escolha espécies vegetais e animais que se adaptem às condições locais e que se complementam. As árvores frutíferas, por exemplo, podem fornecer sombra para plantas menores, como hortaliças e ervas. As leguminosas, como feijões e ervilhas, podem prender o nitrogênio no solo, melhorando sua fertilidade.

Plante as árvores primeiro

Plante as árvores primeiro e depois as plantas menores, como as plantas que dão folhas de chás. Isso permite que as árvores cresçam e forneçam sombra e nutrientes para as plantas menores. Além disso, as árvores precisam de mais espaço e luz para crescer, então é importante posicioná-las corretamente no início do projeto.

Cuide das plantas

Cuide das plantas e árvores regularmente, fornecendo água e nutrientes necessários. A agrofloresta é um sistema em constante evolução, e pode ser necessário fazer ajustes e mudanças à medida que o projeto avança.

Monitore e avalie

Monitore e avalie o progresso do seu projeto ao longo do tempo. Isso pode ajudá-lo a identificar quais espécies estão crescendo bem e quais precisam de mais atenção para fazer ajustes, consequentemente melhorando o desempenho do sistema.

Iniciar uma agrofloresta pode ser um processo desafiador, mas pode trazer muitos benefícios para a saúde ambiental e econômica da sua região. Sendo assim, com um pouco de planejamento e dedicação, é possível criar um sistema agrícola mais sustentável e resiliente.

Estrato das plantas e suas funções

Visão geral dos diferentes estratos das plantas e alguns exemplos de espécies em cada estrato.

  1. Estrato superior ou emergente: Este é o estrato mais alto, geralmente consistindo de árvores altas que emergem acima da maioria das outras plantas. Alguns exemplos incluem a árvore do pau-brasil (Paubrasilia echinata), a castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa) e a embaúba (Cecropia spp.).
  2. Estrato médio: Este estrato é composto por árvores menores, arbustos e pequenas árvores. Algumas espécies incluem o cedro-rosa (Cedrela odorata), a jabuticaba (Plinia cauliflora) e o jenipapo (Genipa americana).
  3. Estrato inferior ou herbáceo: Este estrato é composto por plantas herbáceas, gramíneas e trepadeiras. Alguns exemplos incluem a batata-doce (Ipomoea batatas), a trepadeira jasmim (Jasminum polyanthum) e o capim-limão (Cymbopogon citratus).
  4. Estrato rasteiro ou de cobertura do solo: Este estrato é composto por plantas rasteiras e que crescem junto ao solo, como as samambaias (Pteridophyta), a capuchinha (Tropaeolum majus) e a menta (Mentha spp.).

É importante notar que muitas plantas estão presentes em vários estratos, dependendo do estágio de desenvolvimento, da localização e das condições ambientais. Além disso, em sistemas agroflorestais, é comum plantar várias espécies em camadas e em arranjos estratégicos para usar todo o espaço e recursos disponíveis.

Como cuidar de uma agrofloresta?

Antes de tudo, vale lembrar que existem alguns princípios gerais que podem te guiar no cuidado dos sistemas agroflorestais.

  1. Rotação de culturas: a rotação de culturas é uma prática importante em uma agrofloresta para manter a fertilidade do solo e evitar o esgotamento de nutrientes. Isso envolve o cultivo de diferentes espécies em um mesmo local ao longo do tempo.
  2. Manejo agroecológico: em uma agrofloresta, é importante evitar o uso de produtos químicos sintéticos, como pesticidas e fertilizantes. Em vez disso, utiliza-se práticas agroecológicas, como o uso de adubos orgânicos, controle biológico de pragas e cuidados anti-doenças.
  3. Podas e desbastes: para controlar o crescimento das plantas em uma agrofloresta, é comum fazer podas e desbastes para permitir que a luz penetre em diferentes estratos e para evitar a competição por recursos entre as plantas.
  4. Consorciação: a consorciação de espécies é uma prática importante em uma agrofloresta, ajuda a maximizar o uso do espaço e dos recursos disponíveis. Sendo assim, deve ser feito o cultivo de diferentes espécies de plantas, em arranjos que se complementam e favorecem o crescimento e desenvolvimento das plantas.
  5. Manejo da fauna: além do cuidado na criação das plantas, é importante manter saudável a fauna que vive na agrofloresta, como aves, insetos e outros animais. Isso pode envolver a criação de abrigos para animais e a implementação de práticas que favoreçam a biodiversidade da região.
  6. Monitoramento e avaliação: por fim, é importante realizar um monitoramento constante da agrofloresta para avaliar seu desempenho e fazer ajustes necessários ao manejo. Isso envolve avaliar a saúde das plantas, a qualidade do solo, a produtividade e outros indicadores relevantes.

Portanto, por meio desses cuidados, os sistemas agroflorestais podem reaproveitar insumos que ajudam a conservar o meio ambiente, sendo um projeto ecologicamente correto indicado para pequenos agricultores.

Um grande exemplo de agrofloresta no Brasil, é o suíço Ernest Götsch

Ernest Götsch é um agrônomo suíço-brasileiro, conhecido por suas contribuições para a agrofloresta e a agricultura regenerativa. Ele se mudou para o Brasil em 1984, onde iniciou seus trabalhos com agroflorestas no estado da Bahia.

O fundador do conceito de agricultura sintrópica, que busca criar sistemas agrícolas que imitam os processos naturais. A agricultura sintrópica tem como base a criação de agroflorestas, com uma grande diversidade de espécies vegetais cultivadas juntas em diferentes estratos, promovendo a regeneração do solo e a produção de alimentos saudáveis.

Além disso, também criou a Fazenda da Toca, em 1998, no interior de São Paulo, que se tornou uma referência em agroflorestas e agricultura regenerativa no país. A Fazenda da Toca produz ovos, frangos, leite, carne e outros alimentos, utilizando práticas agroecológicas e integradas com a natureza.

Ernest Götsch é autor do livro “Agricultura Sintrópica – Uma Introdução”, que tem como objetivo difundir os conceitos e práticas da agricultura sintrópica para agricultores, pesquisadores e interessados em geral. Ele continua atuando como palestrante e consultor em agroflorestas e agricultura regenerativa no Brasil e em outros países.

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